Carlos e Rafael são um casal liberal do interior de São Paulo que se amam e se cuidam juntos. Cadastrados no Ysos, app específico para quem busca por ménage à trois. Por serem duas pessoas apaixonadas que se respeitam, eles levam a sério a questão da prevenção a Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
Atualmente, com o apoio da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), eles têm acesso à Profilaxia Pré-Exposição (PREP). Todas essas siglas podem até confundir a princípio, mas é com elas que o casal organiza sua rotina de prevenção. “Nosso maior medo, desde que iniciamos nossa vida sexual, é contrair o HIV. Após a abertura da relação, com o acesso às profilaxias, nós tiramos um peso enorme das costas e conseguimos aproveitar ainda mais todas as relações sexuais que tivemos posteriormente. Inclusive, sentimos a melhoria na saúde mental, pois se a camisinha estourar, estamos protegidos do HIV e não ficamos pilhados com isso”, contam.
Responsabilidade afetiva e prevenção devem andar juntas
O que Carlos e Rafael sentem um pelo outro vai além do amor e envolve, também, a responsabilidade afetiva, um pilar fundamental que deve estar presente em todas as formas de relacionamento.
A psicóloga e sexóloga, Dra. Josi Mota, diz que a honestidade é primordial quando o casal busca aprofundar sua liberdade sexual e é ainda mais importante quando envolve questões de saúde. “O diálogo e a sinceridade são a base do respeito, amor e carinho um com o outro, por isso, essenciais para um relacionamento saudável e seguro. O casal deve discutir em união sobre qualquer adversidade que passarem, para que tomem as medidas necessárias, tanto para o tratamento, como para a qualidade da relação”, explica.
Mas, nem todo relacionamento é assim, saudável e transparente como o do Carlos e do Rafael, pelo contrário, muitos são carregados de preconceitos, achismos e tabus. “Entender os diferentes corpos e necessidades de cada membro da relação é o primeiro passo para unir o prazer com o amor”, completa Josi. A liberdade dos relacionamentos abertos, liberais, livres, não monogâmicos, poliamorosos, entre outros modelos que têm chamado atenção ultimamente, ainda suscita muitas desconfianças alimentadas pelos estigmas da irresponsabilidade e da condenação do sexo.
Cientes da necessidade de se proteger, o casal Carlos e Rafael comenta a postura de muitos que não se atentam corretamente à própria saúde. “As pessoas ainda têm preconceito ou medo, vergonha de procurar sobre as profilaxias e acabam não conhecendo os benefícios que esses procedimentos proporcionam. Alguns se assustam, acham que tratamos HIV, mesmo após explicar que não é isso, que estamos apenas nos protegendo. Às vezes, sinto que acham isso, mas a maioria acaba ouvindo nosso relato sobre a PreP e achando bacana o fato dela reduzir a quase zero a possibilidade de contrair o HIV”.
O head de marketing do Ysos, Gustavo Ferreira, comenta que mesmo com muitos tabus e preconceitos superados ainda há, no entanto, quem acredite que a liberdade sexual compreende relações sem preservativo, falta de amor e cuidado com a parceria e consigo mesmo. “Casais como Carlos e Rafael, como tantos outros, mostram justamente o contrário, que é possível ter liberdade, se relacionar com outras pessoas e ainda assim se proteger e se cuidar”, diz.
Preocupação com a saúde é para qualquer relacionamento
Para o urologista, Dr. Jefferson Lopes, levar a profilaxia e os exames preventivos a sério é um dever de todos, não só daqueles que estão em relacionamentos abertos, liberais ou homoafetivos. “A saúde masculina deve ser tão discutida como a feminina, pois ainda é cercada de tabus que podem prejudicar a vida em casal. É preciso autoconhecimento, responsabilidade e empatia de ambos os lados”, comenta ainda reforçando que para se autoconhecer é preciso ter acompanhamento médico constante e cuidar do corpo de dentro para fora.
A ginecologista e obstetra, Dra. Érika Mendonça, faz o coro com os colegas especialistas e reforça que o conhecimento da sexualidade feminina ainda é muito distante para a maioria dos homens, que, muitas vezes, colocam o pênis como o elemento principal do sexo e não mergulham nas possibilidades de conhecer verdadeiramente o corpo das mulheres. Ela conta, também, que os pensamentos incorretos são frequentes e apenas fruto da falta de informação. “Já ouvi muitos relatos de homens que acreditam que se usarem camisinha vão perder a ereção”, frases absurdas e incabíveis.
Outra especialista ouvida pelo Ysos foi a infectologista, Dra. Sheila Teodoro, que reforça que o uso de preservativo é imprescindível, não importa qual seja o seu tipo de relacionamento e alerta os casais que desejam não usá-lo. “A opção de retirar o uso de preservativo numa relação deve ser feita em conjunto pelo casal, de forma consciente e com todos os riscos avaliados, focando em outras estratégias de prevenção, como a testagem. Apenas o fato de estar em um relacionamento fixo monogâmico não protege ninguém das infecções sexualmente transmissíveis. Portanto, é fundamental conhecermos outras estratégias de prevenção e buscar os cuidados da nossa própria saúde, numa jornada de autocuidado mesmo”.
Dra. Sheila também comenta que é muito frequente ela prestar atendimento a mulheres casadas com alguma IST adquirida recentemente no contexto de um relacionamento fixo monogâmico. “ Pensando na Prevenção Combinada, temos o uso de preservativo, o tratamento da pessoa que vive com HIV, a testagem, a PEP, a PREP, as vacinas, a redução de danos, etc”, explica.
A especialista também ressalta que são diversas as estratégias que podemos utilizar, conforme nosso contexto de vida e preferências pessoais. “Quaisquer dessas escolhas podem e devem ser discutidas pelo casal e, quando isso não for possível, a pessoa pode procurar estratégias para se proteger independentemente da relação ser monogâmica ou não. Às vezes um casal que vive um relacionamento não monogâmico, que realiza testagens regulares, utiliza PREP e preservativo, além de dialogar sobre o assunto, está mais protegido do que um casal que vive uma relação monogâmica (já que nem sempre essa monogamia é bilateral)”, explica.